É uma sala grande e ampla, com as paredes pintadas de preto
e o chão, alcatifado, da mesma cor. De um dos lados, em cima de uma espécie de
estrado de madeira, há uma cama, vestida com lençóis de seda pretos e brancos,
desalinhados, entre os quais repousa um homem com quem mantive, há anos, uma
relação longa e muito intensa. Ele dorme.
Na parte mais baixa da enorme sala negra, há outra cama,
onde me estendo eu e, ao meu lado, um homem alto e maciço, sem ser gordo, e que
não tem rosto, ou se tem eu pelo menos não consigo vê-lo. Também esta cama está
feita com lençóis pretos e brancos, entretanto desalinhados, e o homem sem
rosto dorme, tal como o outro. Junto a uma outra parede da sala surge o único
apontamento de cor diferente neste cenário: numa mesa branca há uma taça, e lá
dentro uma maçã vermelha.
Entretanto, o homem que dormia na cama em cima do estrado
acorda e convida-me para dançar. Eu aceito, mas de repente, em sobressalto,
começo a fugir dele. Corro pela sala de paredes pintadas de negro, que é
enorme, em busca de uma porta ou de uma janela por onde possa escapar, mas não
a encontro. E ele continua a perseguir-me, enquanto o homem sem rosto permanece
adormecido. E eu corro, corro, corro, sem nunca ser alcançada pelo meu perseguidor,
mas também sem encontrar uma forma de fugir daquela sala.
É então que acorda o segundo homem adormecido, cujo rosto se
revela enfim. Constato que é o meu namorado actual. E o sonho acaba assim…
Carla Teixeira, Porto (Porto), Portugal
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