Obra de Freud


Circo da Mente é um depósito de sonhos. Não está associado a qualquer corrente psicanalítica. Por afirmar a sua neutralidade é que sublinha a obra-prima de Sigmund Freud, “A Interpretação dos Sonhos”, como ponto de partida para todos os caminhos que hoje existem. Neste sentido, deixamos aqui uma resenha da principal obra de Freud e um documentário sobre o mesmo tema.





 “A Interpretação dos Sonhos”, de Sigmund Freud
 Ao longo de várias edições, Freud atualizou o seu livro “A Interpretação dos Sonhos”. A obra foi concebida, em termos de estrutura do pensamento e da definição teórica, no começo de 1896.
O livro foi publicado em 1899, mas Freud pediu para que a data de edição fosse de 1900, para criar a impressão de que as suas teorias eram pioneiras, não do século XIX mas do século XX.
No início, "A Interpretação dos Sonhos" foi  ignorada e até desaprovada pelos colegas de Freud. O livro vendeu apenas 350 exemplares nos primeiros seis anos.
Mas Freud acabaria por se tornar num reputado médico (psicanalista) e a sua "Interpretação dos Sonhos" numa obra obrigatória entre os seus pares. Seguiram-se várias edições do livro, quer no original em alemão, quer traduzidas. A oitava edição alemã, em 1930, é a última a ser publicada durante a vida do autor. Esta é a mais atualizada e revista por Freud.




O início da psicanálise
Com a publicação do livro “A Interpretação dos Sonhos”, Sigmund Freud marcou o início da psicanálise. Antes, a psicologia era uma disciplina (desprezada) da medicina. Mas foi ainda mais longe…
Com “A Interpretação dos Sonhos”, Freud demonstrou que psique humana é uma estrutura constituída por dois grandes campos: o consciente e o inconsciente, duas áreas psicológicas normais, que toda a gente tem. Antes, os dois estados mentais já eram aceites, mas o inconsciente era apenas associado a situações de patologia, como o caso das mulheres histéricas com as quais Freud iniciou suas pesquisas com o médico Joseph Breuer.
Como homem (intelectualmente avançado) do seu tempo, Freud defendia o positivismo, a existência de uma causa para tudo. Desta forma, presumiu que os acontecimentos dos sonhos tinham um significado e uma causa.
Ao longo da sua atividade de médico, Freud chegou à conclusão que os seus pacientes, ao falarem dos seus problemas, narravam também os sonhos.
Freud estipulou um método de estudo. Os seus pacientes tinham de estar o mais relaxados possível, de forma a poderem relatar qualquer pensamento que lhes viesse à mente, sem se perturbarem ou censurarem. Por isso, os pacientes estavam deitados num divã e Freud sentado perto das costas da cabeceira. É assim que nasce a imagem protótipo de um psicanalista com o seu paciente.
Seguindo o método freudiano, o que deve ser analisado num sonho são as partes separadas do seu conteúdo e não o seu todo.
Freud concluiu que no início da consulta, os pacientes ao serem indagados sobre o que lhes ocorria em relação aos seus sonhos não sabiam o que responder. Mas quando lhes eram apresentados fragmentos desse sonho, os pacientes faziam várias associações. A esta ação Freud chamou “pensamentos de fundo”. Resumidamente, a interpretação freudiana é baseada nas associações feitas pelos pacientes com os vários detalhes do sonho.





 O desejo do prazer
O trabalho de Freud sobre os sonhos começou em 1887 quando foi ver uma série de jovens mulheres que sofriam de histeria (como se chamava na época), uma estranha doença cujos sintomas apontavam para dores, contrações involuntárias e, por vezes, a paralisia.
Freud tentou curar as suas pacientes através da hipnose mas sem sucesso. Mas quando uma paciente começou, espontaneamente, a descrever os seus sonhos, ficou intrigado. Desta forma intuiu que o papel dos sonhos podem desempenhar a revelação de um trauma escondido, um desejo não alcançado.
O trabalho de Freud baseado na livre associação de ideias em relação aos sonhos reforçou a sua convição de que a fonte das neuroses nascem a partir de danos emocionais causados na infância. Ele traçava, pela primeira vez, a teoria do complexo de Édipo, baseando-se em parte nas experiências da própria infância.
Freud observa que entre a grande variedade de sonhos alguns são comuns a quase toda a gente, como quedas de grandes altitudes, perseguições, voos e falhanços.
A observação da natureza humana influenciou muito Freud. Basicamente, somos todos egoístas, impulsionados pela agressiva necessidade do desejo de prazer.
No entanto, aprendemos a reprimir os nossos impulsos animais, à medida que vamos crescendo, com o propósito de sermos aceites na sociedade, mas nunca dominarmos totalmente os nossos desejos mais primários.
É este auto-animal, que contém o núcleo da psique, que Freud chamou de id.
O ego e o superego são desenvolvimentos (do id) que surgem da necessidade de sobreviver e adaptação ao ambiente social.
O ego é o “eu” racional. O superego representa as pressões da sociedade e diz-nos o que é certo e errado.
Em “A Interpretação dos Sonhos” Freud teorizou sobre o que poderia fazer sentido nos sonhos. Há uma parte da mente, que ele chamou de censor, que projeta os nossos sonhos. Se sonharmos com um desejo, somos assolados por fortes emoções que ainda temas presente quando acordamos.



 O caminho para o inconsciente
O censor transforma o conteúdo do sonho para disfarçar o seu verdadeiro significado.
Freud chamou a esta transformação do desejo de “interação do sonho”. É composta por várias fases. O “deslocamento” muda a emoção de uma ideia para outra. A “condensação” concentra diversos pensamentos numa única representação.
Freud fez auto-análise dos seus sonhos utilizando o método da livre associação. Ao despertar, procedia a uma análise dos seus sonhos. Escrevia as histórias dos sonhos e depois, realizava a livre associação com o material obtido.
“Vou apresentar a prova de que existe uma técnica psicológica que torna possível interpretar os sonhos”, escreveu Freud anunciando a sua obra-prima, ao mesmo tempo que descria os sonhos como o caminho para o inconsciente.
Freud encontrava uma origem sexual em quase todo o tipo de sonhos. Esta crença criou-lhe muito inimigos e perdas de amizades. (ver Vida de Freud)