Um dos meus sonhos mais marcantes é fácil de
contar, porque foi bastante curto: a parte de que me recordo começa comigo a
correr desesperadamente para o meu carro, que na realidade era cinza mas no
sonho era preto (embora da mesma marca e modelo, um Renault Clio II). Assim que
entro no carro e arranco a alta velocidade, como quem pretende pôr-se a salvo
de algo terrível, vejo pelo espelho retrovisor que sou perseguida por dois
leões, maiores do que o carro, e que correm à mesma velocidade a que vou
rolando pela estrada, escura como breu. A dada altura, constato, com surpresa e
incredulidade, que os leões já não me perseguem. Desapareceram misteriosamente,
talvez para dentro de um imenso campo de milho que ladeia a estrada larga e
escura.
Respiro fundo. Abrando a marcha,
mas mantenho as portas trancadas e os olhos esbugalhados, para tentar ver, no
escuro sinistro que me rodeia, alguma coisa que me explique o que acabou de se
passar, e como era possível que dois leões gigantes me perseguissem pela noite
daquela maneira. Mas algo também bastante estranho e assustador se passa logo a
seguir: na berma da estrada há um carro com as luzes acesas e a porta do
condutor aberta. No meio da rua, a escassos metros, vejo um homem deitado. Está
esfarrapado, e pelo que consigo ver com tão pouca luz, parece estar morto e a
sangrar abundantemente. Logo depois percebo, porém, que está vivo, quando
levanta a cabeça e ensaia o gesto de se levantar. E é nesse exacto momento que,
naquela estrada escura e deserta, e no meio de todo aquele silêncio, um camião
de marcha até aí indetectável, porque feito de algo que se parece com uma
nuvem, passa por cima do homem e lhe arranca a cabeça num ápice, deixando um
rasto de sangue e desaparecendo em seguida, como que sugado pelo céu…
Carla Teixeira, Porto (Porto),
Portugal
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